Sendo através da família que a criança vive as primeiras experiências afetivas e relacionais, não será difícil perceber a sua importância no cuidado e no desenvolvimento saudável da criança.
Nas famílias funcionais, em que as relações são pautadas pelo afeto, pela disponibilidade e pela partilha, as crianças aprendem a se sentirem seguras e acarinhadas, ficando “disponíveis” para adquirir comportamentos que lhes vão proporcionar bem-estar físico e emocional.
Tendo por base modelo ecológico do sistema familiar proposto por Bronfenbrenner e a teoria do funcionamento familiar numa perspetiva de stress e coping, vários autores introduziram o conceito de ambiente familiar para explorar as vivências, a que chamaram perceção, que os elementos que pertencem ao sistema familiar têm sobre o seu funcionamento.
Directamente relacionado com estes processos estão as cognições, as emoções e os comportamentos, e no seu conjunto refletem a relação que o individuo estabelece com o meio. O funcionamento familiar será tanto mais adequado quanto mais capaz de se adaptar às situações potencialmente stressantes, e quanto mais reduzida for a vulnerabilidade dos sujeitos ao stress. Um ambiente familiar acolhedor, caracterizado por relações positivas e harmoniosas, está associado à redução da vulnerabilidade e a uma melhor capacidade de adaptação e de desenvolvimento pessoal.
Ainda segundo o modelo sistémico-ecológico de Bronfenbrenner, o desenvolvimento humano só pode ser concebido como sendo o resultado das dinâmicas entre o sujeito e o seu contexto, isto é, através das relações recíprocas que estabelece com os vários sistemas no decorrer dum intervalo temporal. O desenvolvimento da criança ocorre quando, perante novos desafios consegue mobilizar os recursos necessários e adequados à sua resolução das dificuldades que sente. Para que tal aconteça, será fundamental um sistema de suporte e de apoio, onde a família assume um papel particularmente importante. Um ambiente protetor, estável, coeso mas simultaneamente flexível, será promotor de resiliência. Quer isto de dizer que a capacidade de superar os desafios mais difíceis e ultrapassar as situações adversas, tendo como ganho mais recursos e competências, passa principalmente pelo sistema familiar.
A família poderá, assim, ser considerada como um microssistema, em que cada elemento tem designado um conjunto de actividades e de relações esperadas no contexto familiar. As mudanças nos papéis, no contexto, ou em ambos levam à transição ecológica que pode ser ou não normativa. A disfuncionalidade do sistema familiar percepcionada pelas crianças estará associada a um desempenho inadequado dos papéis familiares, em que os pais, perante situações de stress ou acontecimentos inesperados, perdem a capacidade de manter o controlo da situação e de administrar os conflitos, de forma a minimizar os fatores de risco para um desenvolvimento saudável da criança.
Helena Coelho
Psicóloga Clínica