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Benefícios das interações sociais no desenvolvimento e aprendizagem



As interações sociais desempenham um papel relevante na apreensão de conhecimentos e na aquisição de competências, na socialização e na afectividade. Aprende-se a respeitar os ritmos dos outros, a gerir as relações com os outros, assumindo cada um, em momentos diferentes, a liderança da díade.

Ganha-se uma maior capacidade de verbalização ao explicar-se ao par o seu raciocínio. Aprende-se a fazer conjeturas e a testá-las, mas aprende-se também que nem sempre se tem razão e que também se cometem erros, que é necessário remodelar ou ter-se novas ideias.

Se por um lado há efeitos a nível cognitivo, da apreensão dos conhecimentos e aquisição de competências - os sujeitos são confrontados com outras estratégias de resolução, o que os incita a descentrarem-se das suas posições iniciais (desestabilização, segundo uma perspectiva procedimental) e a terem de compreender outras formas de abordar o mesmo problema, que conduzem a raciocínios diferentes dos seus, fazendo-os apreender (em conjunto) mais conhecimentos e adquirir mais competências, verificando-se mais ganhos com a participação activa na tarefa - por outro lado, num processo interactivo nem tudo é cognitivo.

Os próprios conflitos gerados pela resolução dos problemas são também sócio–cognitivos, já que pressupõem que o sujeito seja capaz de gerir a interação, de decidir quem a lidera, de chegar a consensos, de dar oportunidade ao outro de expor os seus pontos de vista. Interagir significa também saber evitar os conflitos afectivos, aprender a respeitar os sentimentos dos pares, saber como eles reagem às nossas intervenções, ganhar resiliência.

Quando não existe convergência de opinião, se discute e se apresentam os argumentos e contra-argumentos, confrontam- se diferentes pontos de vista. Logo, muito do que acontece durante as interações permite desenvolver as competências sociais dos sujeitos – embora nem todas as tarefas desenvolvidas garantam aprendizagem; o modo como se faz pode fazer toda a diferença, assim como o funcionamento sócio-cognitivo da díade. O trabalho de grupo será, então, um importante factor na promoção de melhores desempenhos e, ao contrário do que defendia Vygotsky (1896 – 1934), será verdade tanto para o elemento mais competente como para o menos competente (díades assimétricas), verificando-se ser também uma realidade em díades simétricas. Por exemplo, para que se promovam competências de argumentação, deve-se privilegiar a complementaridade de competências – o que acaba por contribuir para a promoção da auto-estima e para o desenvolvimento de competências.

Todavia, as interações entre pares não são a única solução - mas tem enormes potencialidades para que os resultados obtidos na aprendizagem sejam animadores. Dados mostram que muitas crianças com incapacidades físicas, sensoriais ou intelectuais têm dificuldades nas relações interpessoais (Spence e Donovan, 1998).

Assim, será importante considerar o nível de desenvolvimento da criança, a respectiva execução adequada dos procedimentos e os comportamentos específicos associados à competência social. É preciso identificar como se chega a uma intersubjectividade comum, como se negoceiam significados. Por exemplo, não basta sentar duas crianças ao lado uma da outra para que se estabeleça uma boa interação – ou se fomente uma interação simétrica. É necessário conhecer os critérios de formação das díades que podem maximizar as potencialidades de cada um dos elementos do par, promovendo assim o seu desenvolvimento ou a aprendizagem.

Com vista à promoção de interações sociais entre pares, levando os intervenientes a aprender, a fazer conjecturas e a defender as suas argumentações, será conveniente flexibilizar preocupações (formativas que se sobrepõem às avaliativas), porque há todo um percurso que deve ser tido em conta e não apenas alguns momentos pontuais.

Em suma, nos vários contextos precisamos de aprender a gerir de forma eficaz as nossas interações com os pares. E para apreender um saber socialmente construído, é preciso fazer uma desconstrução desse saber e uma posterior reconstrução. E é neste duplo processo, em que o sujeito atribui significados pessoais, que as interações sociais têm um papel fundamental.

Alice Patrício

Psicóloga Clínica

PsicoMindCare – Associação de Psicologia

 
 
 

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