Todos nós temos dúvidas, incertezas e nos preocupamos com assuntos pessoais, familiares, profissionais. É normal e até desejável, pois serve-nos de protecção perante algo que possa correr menos bem e nos cause dano. Ou seja, não deixam de ser emoções normais e adaptativas que conseguimos controlar, estão delimitadas no tempo e no seu conteúdo, não nos desorganizam e não nos impedem de prosseguir com as nossas actividades diárias.
Contudo, quando a preocupação e os receios se tornam excessivos, intrusivos, persistentes a ponto de se centrarem em situações menos prováveis de acontecer e nos sentimos constantemente tensos e física e mentalmente esgotados para lidar com as rotinas – com fadiga muscular, dificuldade em adormecer, queixas gastrointestinais, cardiovasculares, hormonais - então poderemos estar a vivenciar um estado de ansiedade que não raramente se generaliza a todos os pilares da nossa vida.
A ansiedade generalizada, como a designação indica é difusa e de tão desproporcionada em relação ao estímulo acaba por causar sofrimento e se fazer sentir como prisão. Verifica-se uma inquietação permanente perante várias situações da vida, sejam elas mais ou menos significantes, ainda que em geral são situações e incertezas comuns a todos (saúde, finanças, emprego, família…), mas que aqui o indivíduo leva a inquietação a um patamar muito superior. A pessoa não consegue relaxar, divertir-se, monitorizar os seus pensamentos para outros mais positivos e compromete o seu desempenho.
Será pelo facto de se preocupar em excesso que terá mais cuidado, será mais responsável ou não negligente? Tudo o que acontece na sua vida e na dos seus dependerá só de si? A inquietação vai prepará-lo melhor para acontecimentos desagradáveis ou imprevisíveis? Ou vai impedir que aconteçam?
Bem, em alguns de nós o estado constante de medo e apreensão parece funcionar como estímulo à procura de solução. Pelo menos os níveis de adrenalina aumentam… Parece! Porque por outro lado, a preocupação excessiva pode levar a um estado de depressão e como tal, a concentração necessária para desenvolvermos uma solução para o problema fica comprometida, além de se persistir numa distorção de pensamentos mais pessimista e fatalista. No extremo, a pessoa pode chegar a experienciar perturbação paranóide.
As perturbações ansiosas são os quadros psicopatológicos mais comuns em adultos e em crianças. No geral, as perturbações ansiogénicas constituem quadros clínicos primários, ou seja, não derivam de outras psicopatologias (ex: depressões, psicoses, perturbações do desenvolvimento, etc.). Todavia os sintomas ansiosos (e não tanto as perturbações) coexistem frequentemente noutras perturbações do foro psiquiátrico, mas uma vez mais, a nível primário (de início de surto esquizofrénico, de depressão major).
A terapia de um quadro de ansiedade generalizada pode passar por diversas abordagens psicoterapêuticas. No entanto, a terapia cognitivo-comportamental tem manifestado eficácia duradoura, através de mudança na distorção cognitiva sobre o ambiente e a(s) causa(s) com consequente alteração e reforço positivo no comportamento.
A terapia psicofarmacológica justifica-se em casos mais graves, em que a ansiedade tem um efeito paralisante na vida da pessoa. Contudo, os estudos vêm comprovando que este tratamento realizado isoladamente da psicoterapia não tem efeito duradouro. Os fármacos servirão para regular os sistemas serotonérgico e adrenérgico e em primeira linha os Psiquiatras prescrevem inibidores selectivos da recaptação da serotonina (ISRS) e inibidores selectivos da recaptação da serotonina e de noradrenalina (IRSN) - as benzodiazepinas estão mais direccionadas para situações de ansiedade situacional e crises de pânico, ainda que sejam prescritas em demasia, mesmo para quadros de ansiedade generalizada e apesar de estudos revelarem incerteza de eficácia a longo prazo e risco de dependência.
Alice Patrício, psicóloga @Psicomindcare
Comments