Ao contrário do que muitas vezes é sugerido podemos recorrer a um terapeuta da fala, mesmo quando ainda não sabemos falar. Por diversas vezes ouvimos como é prematuro iniciar terapia da fala antes dos 3 anos de idade, mas a idade não é o factor determinante para procurar ou não a opinião de um Terapeuta da Fala, mas sim as dificuldades que a criança poderá apresentar. A intervenção precoce ajuda a prevenir problemas que podem comprometer uma aprendizagem saudável e um normal desenvolvimento.
Sempre que se verifiquem alterações no domínio da comunicação, linguagem (oral ou escrita), articulação, fluência, voz, audição, motricidade orofacial, sucção, mastigação e deglutição, deve-se recorrer à avaliação de um especialista.
É importante que os pais estejam atentos a variados sinais de alerta ao longo do crescimento da criança, permitindo diagnosticar precocemente possíveis patologias e intervir adequadamente.
Sinais de alerta no desenvolvimento da comunicação e linguagem:*
0-2 meses
não reage aos sons e ao meio
é demasiado irritável e sonolento
2-4 meses
não sorri
não discrimina vozes familiares
chora ou grita sempre que se lhe toca
4-6 meses
tem falta de interesse pelas pessoas e pelos objectos
não localiza ou deteta um som
não vocaliza ou deixa de emitir sons
6-8 meses
não faz trocas de diálogos, conversas
não faz balbucio ou vocaliza de modo monótono
não faz ou não mantém contacto ocular
8-12 meses
apenas compreende linguagem acompanhada de gestos
não entende “adeus” para ir embora
não responde ao nome
não olha para a mãe ou pai em resposta a um pedido
não imita acções e sons familiares
vocaliza pouco e não faz um pedido de forma clara
12-18 meses
compreende poucas palavras ou frases
não usa palavras ou deixou de usar
não imita e não balbucia
não aponta
não olha quando o chamam
18-24 meses
não sabe o nome de objectos familiares
não responde a ordens simples- Não faz pedidos
tem vocabulário reduzido
produz poucas consoantes
2-3 anos
não responde a perguntas fechadas (“sim” e “não”)
não aponta para partes do corpo a pedido
só usa palavras simples e não combina duas palavras
não tem intenção de comunicar
repete o que os outros dizem, mas não responde ou interage com o outro.
3-4 anos
tem uma compreensão fraca e não executa ordens de duas ideias
não responde ou não faz perguntas
tem dificuldade em exprimir-se e fá-lo essencialmente por gestos
usa apenas frases simples e curtas
o discurso é imperceptível para estranhos
4-5 anos
não diz o nome das cores primárias
não responde a perguntas: “O que é?”, “Porquê?”, “Como?” e “Quanto?”
não usa a linguagem socialmente
não faz diálogos
5-6 anos
pronuncia mal as palavras
não conta o seu dia a dia, nem histórias
não usa frases complexas e não compreende noções de tempo e espaço
não usa pronomes possessivos
>6 anos
não mantém o tópico de uma conversa ou responde fora do contexto
precisa de repetição constante quando se pede algo
tem dificuldades na rima e nos sons das palavras
*Adaptado de: “O gato comeu-te a língua?” de Joana Rombert
Para além destes sinais de alerta é de ter em atenção também se a criança: não faz sucção; tem dificuldades em engolir e/ou engasga-se com muita frequência; baba-se muito e tal não é justificado pelo surgir da dentição; não mastiga, prefere tudo passado a sólidos; gagueja há 6 meses de modo persistente ou cada vez de modo mais acentuado.
Se observar alguns destes sinais de alerta existem razões para pedir uma avaliação ao Pediatra ou Terapeuta da Fala. É importante detectar alguma alteração no desenvolvimento da criança o mais cedo possível , uma vez que a intervenção terapêutica apresenta um prognóstico tanto mais favorável quando mais precocemente for iniciada.
No entanto, a deteção mais tardia das dificuldades não impede uma intervenção bem sucedida. Esta poderá ser mais demorada, uma vez que a criança terá que reaprender novos comportamentos linguísticos, comunicativos e/ou musculares, tendo que substituí-los pelos padrões que entretanto foi automatizando.
Marta Nunes, terapia da fala na Psicomindcare para @UptoKids